O título é apelativo. Eu sei. Você sabe. Mas o que vale aqui é a reflexão (e a afirmação, talvez) de que não vale a pena ser vereador em Águas de São Pedro.
Diferente do que muita gente pensa, as atribuições de um representante do Legislativo vão muito além de fiscalizar o Executivo. Em uma cidade com pouco mais de 3 mil habitantes, a cobrança (e os pedidos!) acontecem no mercado, no barbeiro, atravessando a rua, no whatsapp… como tem que ser!
Mas quem está disposto a isso? Que preço se paga por exercer a vereança 24 horas por dia ou, para os mais leigos que acreditam que o cargo se resume a “ir numa sessão camarária duas vezes no mês”?
A questão é que depois que os vencimentos dos vereadores passaram a ser de R$ 1.000,00 por mês desde o início do ano, não só o trabalho como também o interesse em legislar arrefeceu. E eu explico o motivo.
Todo e qualquer ser humano é movido por sonhos. Queremos, sempre, crescer e garantir melhores condições sociais e econômicas. Atuar como vereador, nas atuais circunstâncias, limita estes objetivos. Não que sejamos incapazes de diferenciar um posto do outro, mas a mente tende a somar e dar um veredicto daquilo que mais compensa.
Esta semana tivemos o emblemático caso do vereador Renan Stoco. Visto por muitos como a cara da renovação (não só pela juventude, mas também pelo notório saber jurídico e a contribuição que se esperava dele a longo prazo), o parlamentar renunciou ao mandato alegando que não sobrava tempo para desempenhar o papel com afinco, dizendo ainda que precisava dar atenção especial à profissão e também à saúde.
Avesso à ideia de que políticos façam verdadeiras carreiras no sistema público, vejo uma crescente incompatibilidade entre o “novo” e “a política que se deseja” nos moldes atuais. A tendência, assim como aconteceu com Stoco, é que as pessoas se afastem cada vez mais dos cargos eletivos diante das responsabilidades – que não se limitam a comparecer em sessões, repito – com o passar dos anos.
Por outro lado, é necessário enxugar a máquina pública e dar espaço para aqueles que realmente querem fazer algo pelo município. Mas paira a questão: é possível conciliar a vereança com uma atividade primária que lhe garanta o sustento desejado? É possível não viver sobrecarregado entre estar vereador e ser um empresário, comerciante, empreendedor, funcionário? Quando o provento é justo, a gente até se desdobra. Mas se tratando de menos de um salário mínimo, é evidente que muitos irão escolher o lado da corda que é mais robusto.
Mais uma vez: não defendo supersalários para políticos. Mas reduzir de forma drástica o que é pago a eles pode não ser uma boa ideia. Ainda que haja discordância neste ponto, eleger um político é nossa prerrogativa e cabe a nós, sim, cobrar que faça um bom mandato. Uma pena que, da forma como está, os bons também possam se afastar da empreitada.
As próximas eleições municipais nos darão muitas respostas, mas a reflexão final que faço é: nunca foi tão necessário amar uma cidade como agora para querer fazer parte da Câmara de Vereadores.
Por Renan Bortoletto